30.6.10

Donativos para D. Miguel em 1828


Em Outubro de 1828, reinava então D. Miguel, alguns moradores do Penedo, de Colares e de Almoçageme contribuíram para as "urgências do Estado", como mostra este extracto da «Gazeta de Lisboa» (n.º 252, de 24-10-1828, p. 1304). Embora algumas pessoas contribuissem voluntariamente, por serem partidárias de D. Miguel, para outras tratava-se de autênticas contribuições impostas, pois a recusa tornava-as suspeitas de desafectas ao rei, o que podia representar a prisão. De algum modo, estas relações de donativos, que existem para todas as terras do país, acabavam por incluir os mais abonados de cada povoação.
António Monteiro Cardoso

Mais donativos em 1832





Folheando a «Gazeta de Lisboa» de 1832, encontrámos uma referência ao Penedo no n.º 106, de 6 de Maio, página 539. Trata-se de uma relação de pessoas que contribuiram com um "donativo voluntário" para o fardamento do Batalhão de Voluntários Realistas de Sintra,um corpo criado por D. Miguel, que então ocupava o trono. Era uma forma de custear despesas e ao mesmo tempo um modo de propagandear o apoio de que gozava, num momento em que se esperava a chegada da expedição liberal comandada por D. Pedro.


António Monteiro Cardoso


25.6.10

Uma janela para outra coisa ainda



Foi bonita a festa, pá, cantava o Chico Buarque. Lá voltaremos, noutra ocasião, mais descansados e sempre sem grande preocupação de fazer a "grande" análise, de esgravatar a origem única, de entrar pelos passados reais ou imaginados,embora a história e a antropologia de braço dado possam dar uma boa ajuda à compreensão do que se vê.

Gostámos de assistir e de falar com os responsáveis - os protagonistas mas também os que faziam o trabalho de que todos notariam a falta, ainda que fiquem na invisibilidade do registo doméstico, da copa, da apanha do buxo, das giestas e das flores - enfim, das milhentas tarefas necessárias para que a festa tenha sido como foi.

Dizia um festeiro: "Manter a tradição requer muito trabalho". Frequentemente, a vontade existe, mas é preciso um impulso - os almoços e jantares na TEUP servem para tanto - para que se resolva marcar uma reunião e tomar em mãos a responsabilidade, ajustando com os vizinhos as tarefas de que cada um se encarregará.

Embora exista uma gramática festiva, com uma sequência de procedimentos a cumprir, a festa mostra-se também na sua plasticidade e mudança, devida à criatividade dos indivíduos - como a daquele que, há uns anos, fez uns entrançados de buxo muito originais, usando os seus conhecimentos do trabalho da pedra - à vontade do momento (e é ver o carro do Paulo [aqui se corrige o nome, com pedido de desculpa], nas fotos já publicadas, todo ele em festa)- e ao momento da vida daqueles que a tomam a cargo. Um ano, um festeiro resolveu fazer duas jigas mais pequenas, tocado pela ternura pelos netos - e lá as temos a desfilar com as grandes, agora levadas por outros meninos. Também a carne destinada ao bodo foi em maior quantidade no passado (quando?): eram 6 arrobas,90 quilos, quando os mendigos acorriam logo na semana anterior até à aldeia e em grande quantidade e em que uns tinham que esperar que outros se levantassem da mesa para se poderem sentar. Hoje, bastam 50 quilos, sinal apesar de tudo de melhores tempos.

18.6.10

Festas do Espírito Santo no Penedo - cortejo e coroação



Chegada a banda, iniciou-se o cortejo até à casa do menino que seria coroado imperador. Dispostos ao seu lado, o porta-bandeira e o condestável, respectivamente o anterior e o seguinte na continuidade festiva. Como a festa já não se realizava desde 2000, o Diogo é já um adolescente grande, que se via aqui no papel de iniciador dos dois mais novos. Para que não houvesse falhas, os mais experientes iam dando instruções.





E pronto, depois de alguma espera à porta do novo imperador, o cortejo lá seguiu, com os homens com jigas grandes, dois meninos com jigas pequenas e os pais do imperador, do porta-bandeira e condestável a transportarem as coroas. O mais velho, em fim de ciclo, transportava a bandeira vermelha do Espírito Santo, o condestável empunhava o espadim, enquanto o imperador seguia com o ceptro. Todas estas alfaias da festa são pertença da comunidade e resguardadas com grandes cuidados no período entre as festas.












Sendo o primeiro a pisar o tapete aromático de flores e alecrim, o peqqueno imperador ajoelha na entrada da igreja, sendo-lhe aposta a coroa pelo padre, depois duma benção.





Se as «pedidas» do passado - com um peditório que se generalizava nas aldeias em redor para poder fazer face às despesas da festa - já não têm lugar, há um formato restrito de peditório, que abrange os crentes que assistem à missa de coroação. Entre as alfaias da cerimónia, há pequenos sacos de veludo, que servem para essa recolha.

Festa do Espírito Santo no Penedo: preparar o bodo



Começaram logo de manhã. Primeiro havia que fazer o lume e a lenha estava verde. Mobilizou-se desde logo o senhor Luís para ir buscar uns toros em condições, que permitissem aos cozinheiros - todos homens maduros - dar o seu melhor. Descascavam e cortavam os legumes, os tubérculos e a carne, iam mostrando a desteza na gestualidade fina - como a cortar os dentes de alho, com grande rapidez - provavam e davam a provar entre si o resultado, revezavam-se à hora do almoço para que os grandes tachos não ficassem desgovernados. O resultado, já vimos, parece ter sido do agrado geral. O aroma, garantimos, era sedutor.











Festa de Espírito Santo no Penedo - a distribuição alimentar generalizada



Entre os momentos fortes da sequência festiva está o bodo. A morte do animal ritual e o seu consumo generalizado, com distribuição de sopa, carne, vinho e pão a quantos apareçam, requer uma preparação prévia, de que falaremos noutra ocasião. Os tempos mudaram e o animal é agora morto no matadouro. Também para os mais novos o vinho foi alvo de anátema e substituído pelos refrigerantes. Este formato de comensalidade colectiva, que atraía até há 30 anos grande número de mendigos, juntava à mesma mesa os que aí se sentavam, por promessa. Hoje vemos alguns voventes que distribuem moedas por quantos se sentam à mesa e tomam aí lugar todos os que o desejam - velhos e novos habitantes do Penedo, forasteiros, cameraperson, aprendizes de etnógrafos. Por todo lado, são cada vez em maior número as câmaras dos que filmam, nuns casos «para mais tarde recordar», noutros para emitir em estações de televisão de âmbito regional que tentam implantar-se e conquistar públicos.