7.7.10

Alguns topónimos do Penedo

Em muita da toponímia do Penedo detecta-se a forte presença da água (ribeira, fonte, poço, azenha, pocinho, chafariz, tanque) que tanta inveja causava nos vizinhos de outras povoações menos favorecidas pelo líquido vital, nos tempos em que a agricultura era o centro das actividades dos habitantes locais. Hoje, com todas as casas com água canalizada, ficam nos nomes das ruas estas marcas. Apoquentam-se por vezes os vizinhos pelo facto de tantas linhas de água significarem também impedimentos à construção de novas casas, enviando alguns filhos e netos de penedenses para fora por não poderem construir, mas que fazer? Nesta aldeia da serra a água jorra e a humidade nem sempre é amiga de algumas casas das zonas mais afundadas.


Noutros caso, lá aparece um nome ou a alcunha dum vizinho que, por uma ou outra razão -a sua actividade, o ter alguma graça, determinados atributos físico ou psíquicos, etc - levou a que uma dada rua lhe cativasse a designação.


Ou então, entre a evidência e o desejo, um largo das flores, que até há algum tempo nem sempre fazia jus à designação. Agora, com jasmins, hortênsias e muitas sardinheiras, começa a fazer algum sentido o nome aposto.


Quem era esta enigmática cagarila? Quem o sabe, quem o pode dizer?





Protectora dos mineiros, mas também das trovoadas, a Santa Bárbara por lá está igualmente.


Quem era o Moco? É intrigante olhar para esta toponímia, mas havemos de a tornar mais narrativa. Decerto atrás destes nomes vêm histórias, que aqui haveremos de ir desfiando.










Quem são os andorinhos? O feminino das andorinhas, ou, de novo, uma alcunha de alguns habitantes, duma família?






O Penedo rural fica evidenciado nesta «eira», não evidente para um olhar não socializado neste local.


Outra intrigante degnição. Sapatinho? De quem e porquê? Ou, de novo, era outra coisa - ou pessoa?



A marcação da festa, com a distribuição alimentar generalizada, está também nesta placa toponímica, correspondendo ao lugar onde hoje os homens preparam a refeição que será partilhada no auge da festa do Espírito Santo.



O canastreiro terá perdido a sua função quando a agricultura deixou de ser central e, sobretudo, quando o plástico permitiu fabricar recipientes resistentes e que pareciam mais adequados. Com que fazia o canastreiro as suas canastras, onde ia buscar os materiais?





1.7.10

Peditório para a festa do Espírito Santo, em Lisboa


Esta litografia aguarelada, da autoria de João Palhares, ca 1810-ca 1875, executada por volta de 1850, atesta a persistência desta festividade em Lisboa, em meados do século XIX, com recurso a peditório público, com um gaiteiro e uma bandeira vermelha com a pomba do Espírito Santo. Seria interessante saber até quando se mantiveram estes peditórios na capital e em que consistiam as festividades.
António Monteiro Cardoso

Um caso trágico em 1842


Na "Revista Universal Lisbonense" de 1843, p. 198, semanário dirigido pelo poeta António Feliciano de Castilho, o Penedo é notícia pelas piores razões. Como relata um assinante de Colares, uma criança do Penedo, filha de um "pobre trabalhador", morrera queimada, por se ter chegado ao lume, estando em casa sozinha com um irmão pequeno. O pai empunhou uma faca para punir a mãe pelo sucedido e a revista tira da carta um aviso para as mães descuidadas. Tratando-se de uma família pobre, fora decerto a necessidade que fizera aquela mulher sair de casa, deixando os filhos sozinhos.

Outra notícia de 1843


Na mesma revista e no mesmo número, relata-se outro caso acontecido no Penedo. Alguém dera cabo de um "belíssimo viveiro de pomar de espinho" cultivado com todo o amor pelo sr. Dionizio José de Castro, por coincidência o principal contribuinte para os donativos de 1828 e 1832 (v. mensagens anteriores).
Fora preso um suspeito, que estava na cadeia de Colares, mas em regime livre, como se estivesse solto, o que escandaliza o correspondente, que se queixa do mau estado da prisão, por falta de rendimentos da câmara.
António Monteiro Cardoso

30.6.10

Donativos para D. Miguel em 1828


Em Outubro de 1828, reinava então D. Miguel, alguns moradores do Penedo, de Colares e de Almoçageme contribuíram para as "urgências do Estado", como mostra este extracto da «Gazeta de Lisboa» (n.º 252, de 24-10-1828, p. 1304). Embora algumas pessoas contribuissem voluntariamente, por serem partidárias de D. Miguel, para outras tratava-se de autênticas contribuições impostas, pois a recusa tornava-as suspeitas de desafectas ao rei, o que podia representar a prisão. De algum modo, estas relações de donativos, que existem para todas as terras do país, acabavam por incluir os mais abonados de cada povoação.
António Monteiro Cardoso

Mais donativos em 1832





Folheando a «Gazeta de Lisboa» de 1832, encontrámos uma referência ao Penedo no n.º 106, de 6 de Maio, página 539. Trata-se de uma relação de pessoas que contribuiram com um "donativo voluntário" para o fardamento do Batalhão de Voluntários Realistas de Sintra,um corpo criado por D. Miguel, que então ocupava o trono. Era uma forma de custear despesas e ao mesmo tempo um modo de propagandear o apoio de que gozava, num momento em que se esperava a chegada da expedição liberal comandada por D. Pedro.


António Monteiro Cardoso


25.6.10

Uma janela para outra coisa ainda



Foi bonita a festa, pá, cantava o Chico Buarque. Lá voltaremos, noutra ocasião, mais descansados e sempre sem grande preocupação de fazer a "grande" análise, de esgravatar a origem única, de entrar pelos passados reais ou imaginados,embora a história e a antropologia de braço dado possam dar uma boa ajuda à compreensão do que se vê.

Gostámos de assistir e de falar com os responsáveis - os protagonistas mas também os que faziam o trabalho de que todos notariam a falta, ainda que fiquem na invisibilidade do registo doméstico, da copa, da apanha do buxo, das giestas e das flores - enfim, das milhentas tarefas necessárias para que a festa tenha sido como foi.

Dizia um festeiro: "Manter a tradição requer muito trabalho". Frequentemente, a vontade existe, mas é preciso um impulso - os almoços e jantares na TEUP servem para tanto - para que se resolva marcar uma reunião e tomar em mãos a responsabilidade, ajustando com os vizinhos as tarefas de que cada um se encarregará.

Embora exista uma gramática festiva, com uma sequência de procedimentos a cumprir, a festa mostra-se também na sua plasticidade e mudança, devida à criatividade dos indivíduos - como a daquele que, há uns anos, fez uns entrançados de buxo muito originais, usando os seus conhecimentos do trabalho da pedra - à vontade do momento (e é ver o carro do Paulo [aqui se corrige o nome, com pedido de desculpa], nas fotos já publicadas, todo ele em festa)- e ao momento da vida daqueles que a tomam a cargo. Um ano, um festeiro resolveu fazer duas jigas mais pequenas, tocado pela ternura pelos netos - e lá as temos a desfilar com as grandes, agora levadas por outros meninos. Também a carne destinada ao bodo foi em maior quantidade no passado (quando?): eram 6 arrobas,90 quilos, quando os mendigos acorriam logo na semana anterior até à aldeia e em grande quantidade e em que uns tinham que esperar que outros se levantassem da mesa para se poderem sentar. Hoje, bastam 50 quilos, sinal apesar de tudo de melhores tempos.