Foi bonita a festa, pá, cantava o Chico Buarque. Lá voltaremos, noutra ocasião, mais descansados e sempre sem grande preocupação de fazer a "grande" análise, de esgravatar a origem única, de entrar pelos passados reais ou imaginados,embora a história e a antropologia de braço dado possam dar uma boa ajuda à compreensão do que se vê.
Gostámos de assistir e de falar com os responsáveis - os protagonistas mas também os que faziam o trabalho de que todos notariam a falta, ainda que fiquem na invisibilidade do registo doméstico, da copa, da apanha do buxo, das giestas e das flores - enfim, das milhentas tarefas necessárias para que a festa tenha sido como foi.
Dizia um festeiro: "Manter a tradição requer muito trabalho". Frequentemente, a vontade existe, mas é preciso um impulso - os almoços e jantares na TEUP servem para tanto - para que se resolva marcar uma reunião e tomar em mãos a responsabilidade, ajustando com os vizinhos as tarefas de que cada um se encarregará.
Embora exista uma gramática festiva, com uma sequência de procedimentos a cumprir, a festa mostra-se também na sua plasticidade e mudança, devida à criatividade dos indivíduos - como a daquele que, há uns anos, fez uns entrançados de buxo muito originais, usando os seus conhecimentos do trabalho da pedra - à vontade do momento (e é ver o carro do
Paulo [aqui se corrige o nome, com pedido de desculpa], nas fotos já publicadas, todo ele em festa)- e ao momento da vida daqueles que a tomam a cargo. Um ano, um festeiro resolveu fazer duas jigas mais pequenas, tocado pela ternura pelos netos - e lá as temos a desfilar com as grandes, agora levadas por outros meninos. Também a carne destinada ao bodo foi em maior quantidade no passado (quando?): eram 6 arrobas,90 quilos, quando os mendigos acorriam logo na semana anterior até à aldeia e em grande quantidade e em que uns tinham que esperar que outros se levantassem da mesa para se poderem sentar. Hoje, bastam 50 quilos, sinal apesar de tudo de melhores tempos.